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Foto do escritorMaria Garcia

Professora premiada encontrou jornada fora da sua graduação: “Nunca gostei de fato da carreira jurídica”

Andrea Ventura reconhece diferenças de tratamento profissional em relação ao gênero e raça e dá conselhos à nova geração de profissionais


Obter o tão aguardado diploma universitário é, para muitas pessoas, o início de um único e estabelecido caminho rumo à carreira. Essa, no entanto, não foi a realidade da professora universitária Andrea Ventura, de 48 anos.


Nascida em Jaú (SP), Ventura se graduou em direito e percebeu no decorrer dos anos que ser jurista não era a jornada que queria. “Há muitos anos eu compreendi que sou mesmo comunicadora social. E uso a comunicação em todos os âmbitos de minha vida, iniciando-se pela pesquisa e extensão universitária”, enfatizou a profissional multifacetada.


Ventura investiu pesadamente em uma nova formação que a abriu portas e a fez acumular conquistas. Sua passagem no programa de doutorado em administração na Universidade Federal da Bahia (UFBA) a garantiu o Prêmio Vale Capes de melhor tese no grupo "Tecnologias socioambientais, com ênfase no combate a pobreza", recebido em 2015. Ela também foi reconhecida, agora em 2024, pelo Prêmio Educador Transformador do Sebrae enquanto professora da mesma universidade onde obteve seus títulos de mestre no Brasil e doutora, a UFBA.


Ventura atualmente é professora universitária e coordenadora do grupo de pesquisa “Governança para Sustentabilidade e gestão de baixo carbono”, sendo orientadora de graduandos, mestrandos, doutorandos e pós doutorandos da UFBA. Ela também prestou 15 anos de consultoria empresarial para organizações da sociedade civil - e logrou suas principais conquistas durante o processo: ser mãe de duas filhas. Seu único arrependimento? Ter sido “intensa” demais. Para Andrea, ela poderia ter aproveitado com mais calma as suas experiências. “Além de fazer duas faculdades de maneira concomitante, ainda trabalhava e fazia questão de ter vida social ativa. Com isso, algumas experiências importantes não foram vividas em sua plenitude [...] Gostaria de ter podido viver mais detalhadamente e conscientemente algumas etapas”, admitiu 



Negritude e Gênero


Andrea Ventura é uma mulher negra, filha de um casal interracial que enfrentou árduos desafios para se posicionar em uma sociedade racista. Seus pais foram uma inspiração para a profissional que sabia o quanto o racismo e o machismo seriam um empecilho para chegar onde queria. 


A professora elenca alguns desses desafios, a exemplo da dupla jornada de trabalho em um mercado de trabalho que não reconhece esse fator de desigualdade. “Tenho que cumprir os mesmos requisitos de produção de artigos científicos ao mesmo tempo que cuido dos filhos, da casa e da família”, diz. 


Além disso, muitos homens se aproveitam dessa habilidade feminina multitarefária para sobrecarregá-las com mais atividades administrativas. “No meu caso, há um duplo desafio de buscar por equidade: gênero e raça. Sou uma mulher negra. Como tal, acumulo a necessidade de ter que provar todo o meu potencial e minhas capacidades, sempre postos à prova, ainda que de maneira velada”, aponta Ventura. 


É por isso que o principal conselho de Ventura para a próxima geração de mulheres profissionais é iniciar uma carreira que possa trazer mais do que recompensas financeiras. Preencher-se com o que faz feliz acaba criando mais possibilidades de sucesso. “Isso porque estaremos nos dedicando aos nossos afazeres e responsabilidade com muito mais amor. E o amor tem o poder de abrir caminhos”, aconselha a professora. 



Ela por ela


Quem foi ou foram as pessoas que te inspiraram ou te apoiaram durante sua trajetória?


Começo por meus pais, Ademir e Ana Maria Ventura, que me incentivaram fortemente, juntamente com meus três irmãos, a sempre lutar pelos meus sonhos e desejos. Meu orientador científico e meu tutor no pós-doutorado, Professor Célio Andrade, que fez com que meu olhar crítico sobre o mundo se tornasse ainda mais aguçado. Finalmente, Luz Fernández, então pesquisadora da Universidad Politécnica de Madrid, onde fiz meu doutorado sanduíche e me tornei grande amiga. 


Qual conselho você daria para aquelas mulheres que enfrentam alguma dificuldade por serem mulheres? 


Penso que todas nós, mulheres, temos que ter a consciência de que temos ainda uma grande luta pela frente.  Assim, as mulheres que enfrentam dificuldades devem tentar, antes de mais nada, compreender-se enquanto pessoas. E pessoas têm potencialidades, mas também limitações. Não somos perfeitas. Estamos constantemente sobrecarregadas. Mas temos uma força e uma capacidade que é nossa e que ninguém pode tirar. Assim, temos que ser capazes de nos enxergar como seres potentes, com toda nossa força e nossas fragilidades. Temos que usar essa força para minimizar as fragilidades e as dificuldades que se apresentam. Chegaremos lá!



 

A Rede Mulher Florestal reinicia em 2024 o especial Mulheres que Inspiram, campanha para contar histórias de mulheres na área do setor florestal. Para ler mais histórias como essa, acompanhe nossas redes sociais (@redemulherflorestal no Instagram, Facebook e Linkedin) ou a nossa aba de notícias aqui no site.


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